Encontro com a Pati
Data de publicação: 16 de março de 2024

Uma mulher brasileira

Patrícia K. Loeser Marcon

Administradora de Empresas

@pkloeser


Em nossa passagem por São Paulo conhecemos uma mulher que me fez pensar muito sobre a resiliência e a força da mulher brasileira. Essa mulher que não se apoiou em ideologias, auxílios, que tomou a vida nas mãos e escreveu sua história.


Quando saímos da Paulista, pegamos um Uber com uma senhora que não fazia ideia do que estava acontecendo por ali, e nos ajudou a conseguirmos chegar a tempo de não perdemos nosso voo no Aeroporto. Quando comentamos que o movimento acima do comum era devido a uma manifestação da Direita, ela nos disse que não via hora que o Presidente do país fosse outro. Começamos a conversar amenidades, e ela nos disse ter quase setenta anos de idade, já aposentada, fazia Uber como hobby e para não passar os dias sozinha em casa. Pedi se o stress do trânsito paulista não a incomodava, e ela alegremente me respondeu que adora o agito. E que está acostumada com a vida na estrada, pois foi caminhoneira por mais de vinte anos, e começou a me narrar sua história.


Uma menina, jovem, casou sem saber nada da vida, apaixonada, achou que seria feliz. O marido logo se mostrou agressivo e abusivo, e ela acabou engravidando do primeiro filho. Rapidamente, veio o segundo, e desesperada, pediu ajuda a uma vizinha pois não fazia ideia de como evitar uma nova gravidez tão rápido, ainda mais com um parceiro desses. A vizinha então lhe disse para que tomasse anticoncepcional e ela acabou caindo num golpe comum à época, dos comprimidos de farinha. Logo estava grávida do terceiro menino. Quando este tinha uma semana de vida, o marido a abandonou junto com os filhos. Ficou apenas ela, três crianças e sua mãe, que a ajudou a criar os pequenos, desde fazendo empadas até quando ela finalmente conseguiu o emprego de motorista e passou a viajar pelo país.


Essa mulher não precisou de cotas, não abaixou a cabeça, e criou três homens de valor, que construíram seus negócios, família, e ela orgulhosa nos disse que pagou faculdade para os três e que conhecimento é o melhor presente.


Essa é a mulher brasileira da qual me orgulho. Fiquei encantada com a sua resiliência. Não desistiu, não pestanejou. Foi fácil? Óbvio que não! Mas ela estava lá, fazendo o que precisava ser feito. Ela inspirou meu coração. Me senti fraca perto dessa enormidade de mulher. E vi que infelizmente hoje em dia os exemplos que muitas seguem não carregam metade da dignidade que essa mulher tem. E infelizmente exemplos como o dela estão aí, aos montes. Mas muitas vezes não valorizamos essas mulheres, não enxergamos a força de uma história tão comum e ao mesmo tempo tão inspiradora.


Não quero glamourizar o que ela teve que fazer, pois é óbvio que o pai não fez seu papel nessa história. Mas ela não ficou esperando mudança de onde não viria. Ela seguiu sua vida, e conseguiu ser feliz.


Por isso obrigada Dona Rita. Você provavelmente nunca lerá esse texto, mas saiba que se tornou um exemplo pra mim. Espero que ela seja um exemplo pra você também.