Encontro com a Pati
Data de publicação: 21 de outubro de 2023

Um pé na bunda do Marcon?

Patrícia K. Loeser Marcon

Administradora de Empresas

@pkloeser


Na noite da apuração do primeiro turno da eleição de 2022, após um banho de água fria para a direita com o resultado da votação para o cargo de presidente, onde Lula quase venceu em primeiro turno e deu sinais que sairia vencedor no segundo, algo nos deu um pequeno sabor de vitória e esperança de virada: a eleição de uma bancada “conservadora”, com quase 300 parlamentares “alinhados à direita”. 


O que naquele momento parecia algo incrível e que poderia segurar várias pautas da esquerda na Câmara dos Deputados se tornou uma dúvida na cabeça de grande parte da população conforme o tempo foi passando: Se a maioria é de direita, como o governo obtém vitórias significativas? Parecem fazer o que querem, como? A direita é desorganizada? E a resposta é que - não - a grande maioria dos deputados brasileiros não é de direita.


Nossa bancada federal é, sim, em sua maioria, fisiológica, e não ideológica, atuando em troca de favorecimentos como cargos e emendas que são negociadas à luz do dia, em um verdadeiro balcão de negócios (aquelas do malfadado orçamento secreto, lembra? Pois é, elas continuam existindo, foram ampliadas  e hoje são conhecidas pelo belo nome de emendas do relator.) Mas a grande maioria dos parlamentares não se preocupavam com a venda de seus votos, pois nunca havia sido mensurado o quanto ele é fiel ao seu eleitor e suas ideologias. Até hoje. 


Um estudo inédito realizado a pedido da Liderança de Oposição conseguiu fazer o cruzamento das orientações com os votos dados pelos parlamentares. Mas como isso funciona? Em toda votação, existe a “orientação” de voto, que serve para os parlamentares se “orientarem” de como o governo e a oposição entendem que a matéria deve ser votada, exemplo: um PL (Projeto de Lei) que vise aumentar impostos, o governo orienta voto “SIM” e a oposição orienta voto “NÃO”. Teoricamente os parlamentares eleitos para serem oposição deveriam seguir a orientação da liderança oposicionista, mas não é isso que acontece, em muitos casos. Alguns parlamentares até sobem à tribuna para defender que o projeto não seja aprovado, mas na hora do voto, acompanham o governo e votam “SIM”, certos da “impunidade” que gozavam até hoje, mas isso está prestes a acabar.


E o resultado deste estudo é surpreendente. Uma parte dos parlamentares que se dizem “de direita” votam em um percentual elevado com o governo, e através dessa análise concluiu-se que até aqui, dez meses após o início do mandato, apenas 112 deputados seguem sendo fiéis a direita e aos valores conservadores, número muito inferior aos 300 projetados pós eleição.


Esse estudo será atualizado diariamente, e o eleitor poderá ter acesso e monitorar seu deputado, conhecendo a fundo não somente os “posicionamentos” mas como ele responde na prática a essas questões. Afinal, o eleito é ou não um funcionário do povo brasileiro? O mínimo que se exige é que ele aja conforme prometeu.


Óbvio que temos deputados que já vem de atuações focadas em emendas parlamentares, os conhecidos “fisiologistas”. Aí não se surpreende essa mudança de posição. De acordo com o partido que está na presidência, eles vão mudando de lado e normalmente seu eleitor quer isso mesmo, emendas e cargos, e não está preocupado com posicionamentos.


Esse é outro trabalho de conscientização que se precisa levar adiante: Mostrar para a população que princípios e valores do deputado podem impactar muito na vida do brasileiro de acordo com a maneira que ele vota, e que esse dinheiro das emendas é do povo e o deputado somente a distribui. (Algo que nem deveria existir na minha opinião, mas esse assunto fica para um próximo texto…)


Você aí pode estar pensando: “Ah, mas o parlamentar pode ser de direita mas concordar com pautas do governo”. Será? Isso é visto em democracias mais robustas que as nossas, como a americana? Se consegue imaginar um Republicano votando com um Democrata?  Nada justifica esse tipo de atitude. Com essa ferramenta, o povo poderá ter mais um termômetro para acompanhar o parlamento brasileito e definir, após quatro anos, que tipo de político ele quer perpetuar no poder: Um fisiologista ou um ideológico?


Para aguçar a curiosidade de vocês, adianto que: meu marido é alinhado 100% com a direita conservadora, não engana e não enganará o povo que o escolheu, se o fizer, eu dou um pé na bunda dele. :)