Protofeminismo: o precursor do movimento feminista
Tassiane P. Tasso
Assessora Executiva-Administrativa e de Imprensa
Tudo tem uma origem. Um ser vivo, uma nova tecnologia, uma ideia. E tentar entender algo sem compreender de onde (ou de quem) esse algo veio, qual o contexto que o originou é inviável – ou, sendo bem objetiva, é um erro. Portanto, meu objetivo no presente texto será fazê-lo, caro leitor, entender a verdadeira origem do movimento feminista.
Antes do feminismo se apresentar oficialmente ao mundo na forma consolidada e articulada, como um movimento político com nome, identidade e pautas definidas, as pessoas que o criaram buscaram ideias e referências de pensamento de certas fontes anteriores. Essa fonte original de ideias para a formação do feminismo pode ser chamada de protofeminismo, que nada mais é do que um conjunto de elementos iniciais que, mais à frente, melhor desenvolvidos e articulados a outros elementos viriam a produzir tal movimento.
Para falar de protofeminismo é fundamental conhecermos a história da mulher que deu origem a muitas das pautas pelas quais o feminismo luta até hoje. Seu nome era Mary Wollstonecraft, uma escritora inglesa que viveu na segunda metade do Século XVIII que ficou mais conhecida por seu livro “Uma Reivindicação pelos Direitos das Mulheres” (publicado em 1792).
Mary veio de uma família na qual seu pai bebia e batia em sua mãe e, como se isso não bastasse, acabou passando por diversas frustrações em sua própria vida amorosa. Focarei aqui nos dois principais relacionamentos de Mary, que acabaram influenciando de forma mais negativa no seu pensamento político protofeminista.
O primeiro a partir o seu coração foi Henry Fusei, com quem Mary se relacionava mesmo ele estando casado. Ela chegou ao ponto de propor à mulher de Henry que os três vivessem uma espécie de relacionamento a três. Porém, a esposa de Fusei lógica e furiosamente recusou a “proposta” de Mary.
Logo após sua decepção com Henry, Mary decidiu ir para a França, inclusive com o intuito de testemunhar pessoalmente um dos acontecimentos que marcaria sua época e a história: a Revolução Francesa. Chegando lá, ela se apaixonou por Gilbert Imiay, o autor de um tratado sobre as vantagens de um relacionamento livre de compromissos e em defesa do divórcio. Gilbert era, portanto, contra a instituição do matrimônio. Por óbvio, o relacionamento fracassou.
Como pudemos ver de forma resumida, Mary passou por diversas frustrações familiares e amorosas especificamente relacionadas aos homens de sua vida. Essas experiências certamente ajudaram a moldar o pensamento da inglesa quanto ao tema da vida feminina em sociedade, refletindo-se no que ela pôs no papel, como a repulsa pelo matrimônio, por exemplo.
Agora, especificamente quanto aos elementos do pensamento de Mary que podem ser considerados como protofeministas, podemos elencar os seguintes como principais: o direito à educação igualitária entre homens e mulheres; uma educação pública, obrigatória, laica, e até mesmo sem conteúdo religioso e moral algum; e a defesa da ideia de semelhança, e até a igualdade de natureza, entre os homens e mulheres.
Ao ler estes pontos acima, provavelmente o que mais podemos identificar nas ideias de Mary que se assemelham ao feminismo na atualidade é o foco na suposta igualdade, ou falta de diferenças relevantes, entre homens e mulheres. Ela escreveu em seus livros, por exemplo, que os homens só são diferentes das mulheres por receberem uma educação diferente. Para ela, homens e mulheres não são diferentes socialmente e nem quanto às suas preferências pessoais a não ser por questões históricas e culturais – uma ideia construtivista, assim como a que o movimento feminista defende hoje em dia. Para ela, se homens gostam de carrinhos e mulheres gostam de bonecas, isso se deve somente a uma construção social, não tendo absolutamente nada a ver com eventuais diferenças de natureza entre os sexos.
Enfim, talvez já tenha passado por sua mente o seguinte pensamento: “um dia o feminismo teve boas pautas”. A verdade, porém, é que por mais que o movimento tenha aparentado ter algumas pautas interessantes durante a sua história, desde a sua origem o seu foco não estava tanto na defesa de certos direitos para as mulheres, mas sim no questionamento e eventual destruição de princípios, valores e instituições que a sociedade desenvolveu a muitas mãos e duras penas.
Ou seja, o protofeminismo aponta muito mais, assim como o feminismo atualmente o faz, para uma direção destrutiva, e não reformista ou construtiva. E a razão disso provavelmente foi uma mistura de ressentimento e revolta voltados de forma generalizada aos homens e à sociedade.