A Mão Invisível
Data de publicação: 04 de setembro de 2023

Para onde estamos indo?

Realizar previsões econômicas é uma das tarefas mais ingratas do debate público. Dois conceitos estatísticos são responsáveis pela quebra de reputação de grande parte dos economistas: a aleatoriedade e o risco de cauda longa. A aleatoriedade pode ser descrita como a não ocorrência determinística de sucessivos eventos, ou seja, a ausência de padrões.


Já o risco de cauda longa refere-se aos eventos extremos com baixa probabilidade de ocorrerem. Ambos os conceitos fazem parte da natureza e estão intrinsecamente ligados à nossa sociedade. A quebra do mercado de ações em 1987, a Crise Financeira Asiática e a falência do Banco Lehman Brothers são alguns dos eventos improváveis dos últimos 40 anos que alteraram drasticamente as previsões econômicas. Apesar disso, podemos recorrer a algumas premissas para tentar compreender o que está por vir adiante na economia.


Desde 2020, parece existir uma dinâmica econômica diferente em comparação com anos anteriores. Em 2018, a estimativa de crescimento do PIB era de 2,7%, e o resultado foi 1,8%. Em 2019, a expectativa de crescimento era de 2,5%, enquanto o realizado foi de 1,2%. A partir de 2020, com a pandemia, projetou-se uma queda do PIB de 6,5%, porém o recuo foi de apenas 3,3%.


Em 2021, o crescimento esperado era de 3,4%, e alcançou 5%. Em 2022, o PIB conjecturado era de crescimento próximo de 0, ou 0,3%, e o resultado obtido foi de 2,9%. Claramente ocorreu uma mudança de tendência na dinâmica econômica pós-covid. Mas o que poderia explicar este resultado?


Em um estudo recente de Bráulio Borges, FGV-IBRE, o pesquisador concluiu que o crescimento 2020-22 não decorreu de um aumento do PIB potencial, ou expansão da produtividade, mas sim de um choque positivo de renda advindo do setor de commodities. No gráfico abaixo estão os três itens mais importantes da pauta de exportação brasileira: soja (17%), petróleo bruto (13%) e minério de ferro (9%).


Observe que todos os produtos obtiveram aumentos expressivos nos seus preços: minério de ferro (79%), soja (62%) e petróleo bruto (22,5%). A alta dos preços das commodities ocasionou um aumento nos termos de troca da nossa balança comercial, favorecendo não apenas o setor exportador, como também todos setores relacionados à indústria exportadora: transportes, infraestrutura, financeiro, entre outros.


Variação de preço dos três principais itens exportados pelo Brasil


Fonte: TradingView


Uma vez compreendidas as razões do surpreendente crescimento econômico dos últimos anos, podemos investigar alguns caminhos para o futuro. Assim, duas tendências prospectivas estão se materializando. Desde o início do ano, os preços das commodities vem regredindo para sua média histórica,  indicando um arrefecimento do setor.


Ademais, o choque positivo de renda dos últimos anos apreciou o câmbio brasileiro frente ao dólar - de um patamar de R$5,50 para em torno de R$5,00. Na prática, isso pode resultar em um choque negativo de renda. Com preços menores e um câmbio mais apreciado, em 2024 o resultado do setor exportador brasileiro não será o mesmo dos últimos anos, podendo surpreender negativamente.


Contribuindo para a efetivação do cenário supracitado está a desaceleração da economia global. A demanda por bens primários no próximo ano pode vir abaixo do esperado, como mostram alguns indicadores de desaquecimento nas principais economias do mundo.


Ainda, há uma série de riscos políticos colocados pelo atual Governo Petista, tais como gastos excessivos, programas governamentais de investimento com baixa eficiência e ataques a instituições econômicas, como o Banco Central do Brasil. Aliado a isso, a persistente baixa produtividade da economia brasileira contribuirá para um súbito declínio das expectativas do PIB para o próximo ano.


Neste momento, estimar um número para o crescimento econômico do próximo ano pode parecer um pouco de futurologia. No entanto, conforme as premissas anteriormente citadas, podemos considerar que não teremos as mesmas contribuições para o PIB e, inclusive, tendemos a observar uma queda da atividade econômica se a economia global entrar em uma vigorosa desaceleração.


Infelizmente, por não termos um Governo capaz ou minimamente interessado em realizar as necessárias reformas para o aumento de produtividade, o Brasil retornará ao seu crescimento econômico medíocre. Como em momentos anteriores, o Brasil dos últimos anos realizou um "vôo de galinha" e, agora, ruma para mais uma aterrissagem nada agradável na realidade.