Encontro com a Pati
Data de publicação: 07 de outubro de 2023

Os filhos de Deus não estão à venda

Patrícia K. Loeser Marcon

Administradora de Empresas

@pkloeser


O título deste artigo é um tanto óbvio. É claro que todos nós, seres humanos, não estamos à venda. Mas infelizmente nos tempos atuais isso não é algo tão óbvio assim…


O filme “O som da liberdade” foi lançado no Brasil dia 21 de setembro, e ficou em primeiro lugar nos cinemas em seus dois finais de semana de exibição até o momento. Uma história que foi filmada ainda em 2018 e passou por inúmeros boicotes até que seu lançamento acontecesse, e continuou a ser boicotado simplesmente por ter sido bem avaliado por nomes conhecidos da direita mundial. Afinal, se alguém da direita gostou, para a mídia não pode ser algo tão bom assim.


O filme não é de direita nem de esquerda no final das contas, é apenas um filme que denuncia um esquema bilionário e desumano de tráfico infantil. Porém, como é uma obra baseada em fatos reais, veio a lançamento após inúmeros adiamentos gerando discussões de grupos da sociedade de que ele seria inverossímil. Ora, se o filme é baseado em uma história real, como poderia ser inverossímil? Fora que é uma obra de ficção e se fosse inverossímil não haveria problema algum. Também se cogita a possibilidade do filme fazer referência a uma teoria da conspiração criada pelo que a mídia considera a “extrema-direita” no país. Em momento algum no filme se cita algo nesse sentido.  Estes questionamentos não fazem sentido. 


O que o filme busca, sim, é trazer à luz ao assunto tráfico e abusos infantis, que por ser um assunto tão indigesto e desgradável normalmente é deixado de lado. O foco foi tão grande em tentar desmoralizar algo tão profundo e doentio, que nos faz questionar: Quem poderia ser contra isso? Contra expor essas atrocidades? A resposta me parece óbvia novamente. Apenas pessoas que estariam lucrando com tais crimes ou minimamente não os julguem de tanta relevância assim. Pois qualquer pessoa com um mínimo de consciência sai do cinema enjoado ao imaginar que hoje no mundo existem mais escravos do que na época em que a escravidão não era crime. E que grande parte destes escravos, muitas vezes sexuais, são crianças. 


Eu fui ao cinema com certa insegurança pelo tema do filme, mas saí surpreendida por uma história bem escrita e que não trouxe cenas extremamente fortes, mas através da sutileza nos fez questionar muito da nossa sociedade ao longo da narrativa. Atuações ótimas coroam uma história difícil de se contar, mas necessária.

Estamos tão acostumados a ver apenas o que escolhemos, que se expor a um assunto tão difícil exige certo esforço, mas um esforço necessário para que não nos esqueçamos que existem pessoas em uma realidade muito diferente da nossa.


Que fique o convite para ir ao cinema e passar pela experiência de imergir e conhecer melhor esse submundo que nos assombra, mas que ao mesmo tempo é necessário que tomemos consciência para que ações concretas comecem a acontecer. 


Vale a pena assistir e ver que sim, os filhos de Deus não estão e jamais estarão à venda, não importa o quanto tentem convencer as pessoas do contrário.