Inteligência Artificial: A Corrida pelo Ouro
Carlos Eduardo Biasuz
Assessor de Orçamento, Economia e Relações Governamentais
Economista
"A Inteligência Artificial será a eletricidade do século XXI."
Andrew Ng
No corrente ano, a performance do principal índice de ações americano tem surpreendido positivamente as expectativas de mercado: o índice das 500 maiores empresas por capitalização de mercado, S&P500, apresenta uma alta superior a 15% até o presente momento. O fato curioso é que, concomitante a este resultado, a taxa do tesouro americano de 10 anos está no maior patamar desde a Grande Crise Financeira de 2008.
No entanto, o valor justo de uma empresa é negativamente correlacionado com a taxa de juro real de longo prazo. Ou seja, quanto maior a taxa de juro real, menor será o valor dos ativos. Considerando este cenário, surge o questionamento: o que estaria por trás desta alta surpreendente dos mercados?
Considere o seguinte: ao subtrairmos o setor de tecnologia da informação do S&P500, o índice passou a apresentar uma performance de 8% no ano. Percebe-se, portanto, que somente este setor representa 26% da capitalização de mercado e praticamente a metade da performance do índice geral.
S&P500 (laranja) e S&P500 ex-Tecnologia da Informação (azul)
Fonte: Trading View
Este exemplo fornece um bom panorama para compreendermos o que está acontecendo no mercado financeiro. O setor de tecnologia da informação é majoritariamente composto por três empresas: Apple, Microsoft e Nvidia. Também fazem parte do setor dezenas de outras empresas que atuam na fabricação de semicondutores e infraestrutura de softwares. E é precisamente este segmento específico - semicondutores e infraestrutura de software - que está sendo precificado pelo mercado uma vez mais. O motivo? Uma verdadeira nova “Corrida pelo Ouro”: a inteligência artificial.
Todas estas empresas estão destinando investimentos para a construção de uma infraestrutura completa em soluções para inteligência artificial. A Nvidia, a "queridinha do mercado", apresentou uma alta de 220% em suas ações até o presente dia. O balanço do segundo trimestre, divulgado em 23/08, apresentou um crescimento de receita em 101% frente ao ano anterior, e o lucro disparou 843% no mesmo período. O destaque operacional foi para o crescimento de receita do seu centro de dados: 141% frente ao mesmo período de 2022.
A Indústria da Inteligência Artificial
Fonte: Kinea
O que outrora representava não mais que um tema de filmes de ficção científica, passou a ser realidade. Atualmente, a IA é a maior indústria insurgente e os investidores estão comprando a ideia. Contudo, resta saber se a IA possui esta capacidade transformacional na economia.
Em um estudo recente realizado pela Consultoria McKinsey, foram analisados 63 casos de inteligência artificial generalizada, estimando-se um impacto de 2.6 a 4.4 trilhões de dólares na economia global - a nível de comparação, o PIB da Alemanha é de 3.85 trilhões de dólares. Em relatório do Banco Goldman Sachs, estima-se que mais de 25% da mão de obra nos Estados Unidos poderia ser substituída pela IA. E mais de 60% dos empregos poderiam sofrer algum processo de automação.
A eletricidade, o avião, os computadores pessoais. Estes eram considerados verdadeiros paradigmas em termos de avanços da humanidade. Agora, a Inteligência Artificial é vista como o grande salto de produtividade da nossa era, sendo alçada ao seleto grupo das maiores conquistas humanas. Mesmo em um cenário nada agradável para o mercado de ações, os investidores têm apostado: a IA revolucionará a forma como vivemos, representando um novo paradigma evolucionário para nossa espécie. E, assim, os mercados sobem.