Entre o Poder e a Lei
Data de publicação: 02 de novembro de 2023

Batalha da Vergonha na Cara

Brasília, 2 de novembro de 2023.


Escolher um tema para esta semana foi difícil. Pensei em escrever sobre o aplicativo e as votações da emenda do milhão, encerradas terça-feira. Pensei em algumas palavras sobre oportunidade e gratidão, e sobre a última pensei bastante. Pensei e optei por não escrever sobre. Não irei polemizar.


Não, sem polêmicas esta semana. Falarei sobre as votações corriqueiras do legislativo.


Pois bem, esta semana foi atípica. Em semanas de feriado, usualmente começamos a votar nas segundas-feiras, adiantando as sessões. A sessão de terça-feira, normalmente repleta de inutilidades (projetos absurdos, requerimentos ridículos e afins), foi adiantada. E, pasmem, foram votadas inúmeras proposições “geniais”, as quais não adentrarei ao mérito. Nada muito emocionante.


Porém, terça-feira foi diferente. A segunda sessão da semana nos trouxe uma verdadeira batalha. Chamarei de “A Batalha da Vergonha na Cara”. Dois grupos batalharam pela aprovação ou rejeição do Projeto de Lei 3780, de 2023, de autoria do Deputado Kim Kataguiri. A proposta?


Em síntese, aumentar penas de furtos, roubos e latrocínios. A partir de agora, narrarei o ocorrido. Segurem firme o celular, pois a emoção é grande. Vamos lá:


Primeiramente, o cenário:


Entrincheirados do lado esquerdo do Plenário, tínhamos os parlamentares malabaristas de sempre. Babavam, ávidos por sacar seus argumentos brilhantemente escritos do interior de seus paletós e começar as acrobacias.


Do lado direito, um somatório de forças: uma verdadeira parede de escudos composta por oposicionistas contumazes (oposição verdadeira, portanto) e os envergonhados - aqueles que usualmente pendem para o outro lado ao mais singelo sopro. Pois bem, estes últimos desta vez não aguentaram a pressão e se postaram no lado inverso. Não por súbito descargo de consciência, não se enganem. Mas por medo. Ora, todos sabem que os eleitores têm limites. Não valia o risco. Parabenizo-os pois, mesmo sabendo que não valem absolutamente nada, ainda são capazes de alguma vergonha na cara.


E com o cenário posto, começou a batalha.


E devo admitir, fiquei impressionado. Na verdade, fiquei maravilhado.


O lado esquerdo começou de maneira avassaladora. Davam saltos, piruetas, mortais... Deixavam clara sua experiência. Me senti em um espetáculo do Cirque du Soleil, mas com todos os guerreiros atuando em sua magistral plenitude - desempenhando como malabaristas, palhaços e afins. O show que deram para defender bandidos que cometem furtos, roubos e latrocínios foi digno de Oscar ou qualquer outro prêmio brilhante. Uau.


Mas o outro lado também foi feroz. Aguentaram firmemente uma chuva de bobagens, deboches e coitadismos.


Por horas e horas batalharam, batalharam e batalharam.


As piruetas eram incessantes e parecia que permaneceriam pela eternidade. Os guerreiros da trincheira esquerda estavam energizados para defender os seus, era algo que enchia os olhos. Que empenho, que vontade. Mas a parede de escudos se manteve firme em seu propósito, uma verdadeira ode a Esparta.


Incrível.


Mas tudo encontra um final, e desta vez não foi diferente.


E o fim veio com a chegada da madrugada.


E, na madrugada, o lado direito venceu.


Na madrugada, o cidadão sofrido que habita esta linda nação venceu.


O Brasil venceu.


Não 300 espartanos, mas 269 Parlamentares com algum resquício de conexão com a realidade votaram SIM ao aumento de pena para furtos e roubos em suas múltiplas variantes - tal como latrocínio.


Como diria o sábio Abel Braga, “hoje foi lindo, cara.”