A Mão Invisível
Data de publicação: 27 de novembro de 2023

A dolarização na Argentina

"A inflação é sempre, e em qualquer lugar, um fenômeno monetário." - Milton Friedman


Nos próximos meses, a Argentina servirá como o maior laboratório de experimentos monetários desde a virada do milênio. A ascensão de Javier Milei ao posto de Presidente da República Argentina trouxe à tona a discussão de teorias consideradas "outsiders". Duas delas se destacam, ambas referentes ao campo da política monetária: a dolarização do país e a suspensão das atividades do Banco Central da Argentina. Talvez, o que está para ocorrer na Argentina seja uma das mais interessantes aplicações de políticas econômicas na história recente. Os próximos artigos serão voltados para este assunto, e começaremos a responder a seguinte questão: por que a Argentina deve adotar a dolarização?


Não é novidade para ninguém que a Argentina enfrenta uma crise econômica sem fim. O país convive há décadas com a instabilidade política contaminando todos os setores da economia real. Hoje, com 40% da população vivendo abaixo da linha da pobreza, com uma inflação superior a 140% a.a. e taxa de juro de 133% a.a., o país encontra-se na beira do colapso social. Sobretudo, parte do desastre se deve à capacidade do Governo de inflacionar sua moeda para financiar seu déficit fiscal. Sem economês: o Governo imprime dinheiro para sustentar seus gastos! A constante desvalorização do Peso Argentino, aliada ao reiterado desequilíbrio das contas públicas, obrigam o Governo a buscar dólares junto a instituições internacionais visando manter o seu comércio ativo com o restante do mundo. Atualmente, a Argentina é de longe o maior devedor do FMI, com um passivo na ordem de USD 46 bilhões. 


Para isto, surge uma resposta: a dolarização! Adotar uma moeda corrente internacionalmente reconhecida significa proteger o poder de compra, principalmente dos mais pobres, frente às políticas populistas de um Governo ávido para gastar. Isto é o que a experiência dos três países dolarizados na América Latina (Panamá, Equador e El Salvador) nos dizem: nos últimos 20 anos registraram a menor inflação acumulada para a região. Ademais, o trio apresentou um crescimento econômico muito superior ao da Argentina. Estabelecer a dolarização é impor o império da lei sobre a moeda e restringir que políticos imprimam dinheiro para se auto financiar. 


No curto prazo, a inflação irá despencar vertiginosamente, ocasionando um choque positivo de confiança. As expectativas da economia sob controle ocasionarão um aumento significativo de investimentos, com mais emprego e renda disponíveis. Linhas de crédito mais baratas e de maior prazo estarão disponíveis para as famílias e empresas, resultando em uma atividade econômica resiliente. Toda esta bonança será aproveitada pela sociedade, sem interferência da casta política. No entanto, a dolarização não é uma bala de prata, e este choque positivo de curto prazo deve servir para a Argentina performar reformas econômicas estruturais de longo prazo.


Devemos ter em mente que a inflação como fenômeno monetário se deve às políticas do monopólio estatal nesta seara. Permitir um mercado de livre concorrência para a circulação de moedas é conceder que a população escolha a moeda corrente que irá preservar seu capital. Enquanto isto, a casta política é restringida de espoliar o povo por meio da inflação.